- Quem escreve der ter muito cuidado para não escrever molhado. Uma página escrita não deve ficar pingando como pano lavado estirado no varal. Deve-se escrever como as lavadeiras lá de Alagoas, particularmente as de Palmeiras do Índios, fazem com a roupa que estão lavando. Sabe como elas fazem?
- Não.
- Pois lhe conto. Elas começam dando uma primeira lavada. Molham o pano na beira do rio ou do riacho, torcem, molham novamente, torcem. Então botam o anil, ensaboam, torcem novamente, enxáguam, mais uma molhada, outra enxaguada. Em seguida, põem-se a bater o pano na laje ou pedra limpa. E tome torcedura: torcem, até não pingar do pano uma só gota. E somente aí é que penduram a roupa na corda. Pois quem escreve deveria fazer a mesma coisa. Enxaguar e enxaguar. Palavra não foi feita para enfeitar como bandeirinha de São João. Palavra foi feita para dizer.
("Graciliano sempre Graciliano", de Joel Silveira em RAMOS, Graciliano Ramos. Relatórios. Editora Record: Rio de Janeiro, 1994)
segunda-feira, 12 de abril de 2010
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