quinta-feira, 27 de maio de 2010

Resenha - Aline

Prisioneira da terra


De um invariável ponto vê-se sempre a mesma árvore, única constante de uma paisagem que aos poucos transforma-se radicalmente. Apresentada em uma sequência de 15 quadros que relatam transformações relevantes do país, a árvore é a protagonista do livro de Nelson Cruz intitulado “A Árvore do Brasil”, lançado pela editora Peirópolis.


Contada apenas a partir de imagens com legendas básicas que buscam esclarecer a época que cada quadro retrata, a história desenrola uma cidade que começa a ser povoada a partir de 1840, no espaço que, apenas quatro décadas antes, ostentava uma floresta virgem.


A cidade que cresce ao redor da árvore é carregada pelo tempo que, juntamente com as palavras, é um dos “personagens indefinidos” do livro de Nelson Cruz. Com o passar das páginas surgem nas ilustrações as primeiras casas de alvenaria, as carroças, o primeiro bonde, o carnaval de rua, os corsos e a indústria. Tipicamente brasileira, a mesma árvore também presencia a campanha de Getúlio Vargas, o tenentismo, as greves trabalhistas, o golpe militar e os protestos de rua.


As ilustrações do autor mostram, com riqueza de detalhes, o aprisionamento a que uma cidade se submete, sufocando o pouco de vida que ainda a habita. Sobrevivente até o último tijolo, a árvore do Brasil é escondida. Impossível saber se foi derrubada, cortada ou queimada. A única certeza é de que ela foi claramente esquecida.

Um comentário:

  1. Bom primeiro parágrafo: informações básicas + ideia geral do "a que veio?".

    A frase "a história desenrola uma cidade" tem sentido?

    2o. parágrafo: é minha obrigação comentar: "ostentar" é palavra de terno, gravata e mais algum paetê. Pode usar, mas igual medicamento tarja preta.

    "A cidade que cresce ao redor da árvore é carregada pelo tempo...". A imagem que a frase cria é bonita, mas será que se ajusta bem?

    A consideração de que o tempo é personagem é ótima! Mas, para mim, não precisa complicar a ideia com "personagens indefinidos".

    Não iria mal uma virgulinha de "páginas" em "Com o passar das páginas surgem".

    "Tipicamente brasileira": gosto do gancho entre os período.

    "sufocando o pouco de vida que ainda a habita". Sei lá se a ideia é precisa. Pessoas também são vida e vão se adaptando à vida na cidade.

    "a árvore do Brasil é escondida": parece-me que quem não viu o livro não compreende bem o que a frase quer dizer.

    Boa frase de fechamento de texto. Como se trata de uma resenha, não custa fazer mais uma menção ao "objeto" que justifica o texto, algo como "A única certeza que vem das belas imagens de Nelson Cruz é de que ela foi claramente esquecida". Isso reforça o fato de que seus comentários não se dirigem ao que historicamente ocorreu, mas à representação artística dessa história.

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