Prisioneira da terra
De um invariável ponto vê-se sempre a mesma árvore, única constante de uma paisagem que aos poucos transforma-se radicalmente. Apresentada em uma sequência de 15 quadros que relatam transformações relevantes do país, a árvore é a protagonista do livro de Nelson Cruz intitulado “A Árvore do Brasil”, lançado pela editora Peirópolis.
Contada apenas a partir de imagens com legendas básicas que buscam esclarecer a época que cada quadro retrata, a história desenrola uma cidade que começa a ser povoada a partir de 1840, no espaço que, apenas quatro décadas antes, ostentava uma floresta virgem.
A cidade que cresce ao redor da árvore é carregada pelo tempo que, juntamente com as palavras, é um dos “personagens indefinidos” do livro de Nelson Cruz. Com o passar das páginas surgem nas ilustrações as primeiras casas de alvenaria, as carroças, o primeiro bonde, o carnaval de rua, os corsos e a indústria. Tipicamente brasileira, a mesma árvore também presencia a campanha de Getúlio Vargas, o tenentismo, as greves trabalhistas, o golpe militar e os protestos de rua.
As ilustrações do autor mostram, com riqueza de detalhes, o aprisionamento a que uma cidade se submete, sufocando o pouco de vida que ainda a habita. Sobrevivente até o último tijolo, a árvore do Brasil é escondida. Impossível saber se foi derrubada, cortada ou queimada. A única certeza é de que ela foi claramente esquecida.
Bom primeiro parágrafo: informações básicas + ideia geral do "a que veio?".
ResponderExcluirA frase "a história desenrola uma cidade" tem sentido?
2o. parágrafo: é minha obrigação comentar: "ostentar" é palavra de terno, gravata e mais algum paetê. Pode usar, mas igual medicamento tarja preta.
"A cidade que cresce ao redor da árvore é carregada pelo tempo...". A imagem que a frase cria é bonita, mas será que se ajusta bem?
A consideração de que o tempo é personagem é ótima! Mas, para mim, não precisa complicar a ideia com "personagens indefinidos".
Não iria mal uma virgulinha de "páginas" em "Com o passar das páginas surgem".
"Tipicamente brasileira": gosto do gancho entre os período.
"sufocando o pouco de vida que ainda a habita". Sei lá se a ideia é precisa. Pessoas também são vida e vão se adaptando à vida na cidade.
"a árvore do Brasil é escondida": parece-me que quem não viu o livro não compreende bem o que a frase quer dizer.
Boa frase de fechamento de texto. Como se trata de uma resenha, não custa fazer mais uma menção ao "objeto" que justifica o texto, algo como "A única certeza que vem das belas imagens de Nelson Cruz é de que ela foi claramente esquecida". Isso reforça o fato de que seus comentários não se dirigem ao que historicamente ocorreu, mas à representação artística dessa história.