terça-feira, 25 de maio de 2010

Resenha - Felipe

A árvore bicentenária

No fundo da mata virgem nasce a protagonista da história. Silenciosa, ela não chega a ser heroína de nossa gente, mas se transforma, mantém-se presente e simboliza períodos marcantes da história do país. Presencia profundas mudanças sociais –por ser discreta ou respeitada, não se sabe ao certo. “A Árvore do Brasil”, do ilustrador Nelson Cruz, deixa para o leitor a tarefa de identificar qual o papel dela.

Lançado no ano passado, o livro infanto-juvenil do autor mineiro conta apenas com ilustrações. As legendas no final da obra ajudam a compreender uma ou outra imagem, mas no geral os traços coloridos, centrados em detalhes, conseguem narrar a passagem do tempo por meio de uma mesma paisagem, com a personagem bicentenária.

O local genérico (cabe ao leitor decifrá-lo) começa com muitas árvores e alguns índios, recebe os primeiros viajantes, desenvolve-se como povoado, apresenta a indústria e o primeiro bonde e sedia manifestações como a campanha getulista, os protestos contra a ditadura militar e o movimento pelas eleições diretas.

Com esse enredo simples e ao mesmo tempo profundo, o livro é lúdico e pode ser uma boa ferramenta para a sala de aula, em diferentes disciplinas. A árvore imóvel percorre contextos até sugerir um futuro incerto, aberto a interpretações distintas. É mais uma tarefa que concede ao leitor: imaginar seu destino.

"A Árvore do Brasil”
Autor: Nelson Cruz
Editora Peirópolis
Avaliação: muito bom

Um comentário:

  1. A paródia da abertura de "Macunaíma" (e que lembra "Iracema") é um recurso potente, que dá a deixa para o "não chega a ser heroína de nossa gente". Bom que a brincadeira inicial mencione "protagonista da história" e termine com a referência ao livro, de modo que o texto não perca o norte (trata-se de uma resenha).

    A frase "deixa para o leitor a tarefa de identificar qual o papel dela" é meio feiazinha.

    O segundo parágrafo tem uma leve contradição (especialmente para quem não conhece a obra, público "ideal" de uma resenha): o livro só tem ilustrações, mas tem legendas,. Também o segundo período é longo. Por fim, o verbo "conseguir" soa fraco para a intenção que subjaz ao texto. Valeria a pena repensar o parágrafo todo. Eu sugeriria que se falasse já em "transformação da paisagem" em "narrar a passagem do tempo por meio [da transformação] de uma mesma paisagem". Isso prepara a compreensão do parágrafo seguinte.

    Pareceu-me ótimo o terceiro parágrafo.

    Eu, se tivesse superpoderes, proibiria as palavras "profundo" e "rico" em qualquer resenha (dava para proibir também o "interessante"). "Profundo" dá um caráter quase religioso e "rico" parece que se refere a enfeites, decoração... E são conceitos genéricos. Muito melhor a noção de "lúdico", que diz mais.

    "Árvore imóvel" causa alguma estranheza. Se ela "percorre contextos" incrementa a estranheza. E no fundo, a ideia de que a árvore está presente em cenários que se modificam já foi anunciada.

    A frase final é boa na coesão (recuperando o primeiro parágrafo)e produz bom efeito no texto.

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